Spoiler: planejamento + regras + recursos + parcerias
O que faz de Machu Picchu uma cidade inteligente é o seu planejamento cuidadoso e a utilização de recursos de maneira eficiente.
Machu Picchu foi construída no século XV e seu processo de construção foi muito bem planejado pelos incas. Eles escolheram uma localização estratégica no alto dos Andes Peruanos, a 2.450 metros acima do nível do mar. Desde essa posição, os incas podiam ter uma visão de 360° e observar qualquer movimento ao redor da cidade, o que lhes permitia se preparar para possíveis ameaças inimigas, ao mesmo tempo que quem estivesse lá embaixo não conseguia ver a cidade escondida na montanha.
Os incas também construíram um muro ao redor de toda a cidade, deixando apenas uma entrada (e por consequência apenas uma saída). Isso facilitava a defesa da cidade caso inimigos tentassem invadir, já que teriam que entrar um por um.
Uma coisa que me impressionou muito durante a visita a Machu Picchu foi a técnica de construção usada por eles, chamada Ashlar, na qual as pedras são cortadas de maneira a se encaixarem perfeitamente sem precisar que nada as ligue. O principal material utilizado para a construção foi o granito, uma rocha extremamente pesada e difícil de ser cortada, mas que foi trabalhada com tanta precisão que as pedras ainda se encontram perfeitamente encaixadas, mais de meio século depois (veja foto abaixo)
É importante lembrar que Machu Picchu está localizada em uma área que sofre com terremotos com certa frequência, as as construções foram feitas para aguentar esses abalos graças ao planejamento cuidadoso durante a sua construção.
Uma cidade sustentável
Uma coisa bastante surpreendente é o fato de que, apesar de ter sido construída por volta de 1400, a cidade possuía um sistema de drenagem e cultivo em curva de nível. É uma engenharia muito avançada para a época em que a cidade foi construída.
Esse sistema servia para coletar a água da chuva. Ali chovia muito, mas a montanha é muito íngreme e toda água escorria para o rio. Para solucionar esse problema, os incas criaram um sistema de drenagem e infiltração, além de plantio em curva de nível, que consistia em vários degraus.
Machu Picchu era uma cidade que prezava pelas parcerias. Parte da população era responsável pela segurança. Eles vigiavam os caminhos e rios que chegavam até a cidade através dos vãos feitos na construção, que funcionam como janelas. Outra parte cuidava da agricultura para garantir a sustentação e alimentação da população.
Machu Picchu também era uma cidade que valorizava seus recursos: tantos os naturais, como os seus recursos humanos e tecnológicos. A cidade foi construída com recursos locais, como pedras. Além disso, os incas souberam se posicionar de uma maneira estratégica em relação aos rios e, para melhorar a produtividade agrícola, criaram ranhuras nos solos. Tudo isso mostra a preocupação dos habitantes de Machu Picchu em utilizar os recursos de maneira eficiente.
Diante disso, quero trazer uma reflexão:
É muito mais fácil uma cidade pequena ser uma cidade inteligente do que as cidades maiores – porque ser inteligente não está relacionado com tecnologia. Machu Picchu era uma cidade inteligente não porque ela era uma cidade tecnológica, mas por que era muito agradável – até hoje, mais de 600 anos depois, as pessoas continuam querendo visitá-la e conhecê-la.
O que será que aquele povo fez, naquela época, que revolucionou todo o processo de moradia?
Eles criaram um sistema de drenagem, usaram a técnica da curva de nível e construíram uma cidade inteira, em uma área com grande risco de terremoto e deslizamento, sem precisar de fundação ou cimento, apenas com técnicas de engenharia avançadas.
Ou seja: é, sim, possível fazer uma cidade ser inteligente e agradável sem muito dinheiro, porque o que faz uma cidade ser inteligente não é necessariamente o seu tamanho ou o seu orçamento, mas sim a sua eficiência, o seu planejamento e a clareza dos seus objetivos.
Machu Picchu é um exemplo de cidade inteligente, pois conseguiu se desenvolver e crescer porque teve um planejamento bom, focando em usar seus recursos de maneira eficiente.
Qualquer município que seguir este exemplo e focar nos 4 elementos (planejamento, regras, recursos e parcerias) consegue ser uma cidade inteligente e bem-sucedida. Contudo, um município pequeno consegue fazer isso de uma forma muito mais rápida e com bem menos dinheiro – e isso, inclusive, o ajuda a conseguir muito mais parceiros.