Cidades Inteligentes & Terceiro Setor: oportunidades e desafios

O terceiro setor desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de cidades inteligentes e das tendências de ESG (Environmental, Social, and Governance) e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Para os consultores que optam por atuar neste campo, é fundamental compreender os desafios que surgem ao longo desse caminho, que incluem a necessidade de encontrar formas sustentáveis de financiamento, garantir a colaboração entre os agentes da inovação e alinhar os objetivos das partes envolvidas.

Entretanto, vale ressaltar que, junto a esses desafios, também surgem oportunidades únicas que se apresentam ao criar um futuro mais inteligente, conectado e alinhado com as práticas de ESG e os ODS para todos.

Mas antes de entrarmos de cabeça na consultoria de cidades inteligentes, vamos dar um passo atrás e entender como esse trem anda.

Uma cidade inteligente é como um projeto em equipe, onde quatro jogadores principais entram em campo: o governo, o setor privado, o terceiro setor e a sociedade civil organizada. Ela é o resultado da ação coletiva desses agentes.

Eles são os responsáveis por promover e transformar uma cidade em uma cidade inteligente e alinhada com valores importantes, como os princípios de ESG e os ODS.

Agora, para realmente fazer acontecer, todos esses jogadores precisam estar na mesma sintonia. É como um time de futebol que precisa treinar junto e entender as regras do jogo para vencer.

Regras do jogo

O terceiro setor é definido pela legislação como uma entidade privada sem fins lucrativos, que não distribui seus resultados entre sócios, conselheiros, diretores, funcionários ou doadores. Isso significa que o terceiro setor não busca lucro, mas isso não implica que não precise de sustentabilidade financeira. São conceitos distintos.

Embora não tenham o lucro como objetivo, essas organizações ainda precisam garantir sua sustentabilidade financeira para cumprir suas missões.

No setor privado, as empresas prestam serviços, pagam seus funcionários, arcam com os custos e, ao final, distribuem o lucro entre os sócios e diretores. Já no terceiro setor, todo o dinheiro arrecadado é reinvestido no objetivo da instituição. No entanto, isso não impede que as pessoas envolvidas no terceiro setor sejam remuneradas pelos projetos específicos em que atuam.

Durante os nove anos em que estive à frente de uma entidade do terceiro setor, enfrentei desafios relacionados a essa questão. Surgia a pergunta: 

Por que eu não poderia receber remuneração pelos projetos que trabalhava, mesmo que não pudesse receber como diretora?

Por muito tempo trabalhei de forma gratuita, até perceber que poderia ser remunerada pelos projetos específicos em que atuava como técnica, desde que não fosse remunerada pelas atividades de diretoria.

Quero deixar claro que o diretor de uma entidade do terceiro setor não é considerado um funcionário, não assina carteira de trabalho e não recebe salário pela sua função. Apesar disso, quando atua em projetos específicos, pode captar recursos e receber remuneração por seu trabalho. É importante entender essa distinção, pois ela se relaciona diretamente com a sustentabilidade financeira dos consultores.

O papel do consultor na sustentabilidade financeira para o Terceiro Setor

Não tem muito segredo: para alcançar sustentabilidade financeira, as entidades do terceiro setor dependem da execução de projetos.

Esses projetos podem ser voltados para o setor público, para o setor privado ou envolver parcerias com a comunidade e existem diversas formas disponíveis para financiá-los.

É papel do consultor compreender qual é a fonte de financiamento mais adequada e adaptar o projeto para atrair o interesse dessa fonte. 

Desafios no Terceiro Setor

Falta de engajamento dos dirigentes

Um dos maiores desafios que o terceiro setor enfrenta é a falta de engajamento das pessoas envolvidas. Embora muitos indivíduos estejam dispostos a contribuir, a maioria das atividades é realizada de forma voluntária e requer um comprometimento significativo.

É compreensível que as pessoas só possam dedicar seu tempo de forma voluntária se tiverem alguma fonte de renda além do trabalho no terceiro setor. Por exemplo, um diretor não pode se dedicar integralmente a uma diretoria se não tiver outra fonte de renda.

Diminuição do Repasse para as Entidades do Terceiro Setor

Outro desafio que foi agravado recentemente com a pandemia, é a redução dos recursos destinados às entidades do terceiro setor. Com a atenção voltada principalmente para a área da saúde, muitas instituições viram suas fontes de financiamento diminuírem significativamente.

A escassez de recursos afetou diversas áreas de atuação do terceiro setor, tornando fundamental encontrar alternativas para garantir a continuidade das atividades e projetos.

Falta de Conhecimento dos Dirigentes sobre Alternativas de Captação de Recursos

Muitas vezes, esses líderes limitam-se a depender de anuidades ou repasses do governo, sem explorar outras fontes de financiamento.

É necessário ampliar a visão e a compreensão acerca das oportunidades de captação de recursos para que as entidades do terceiro setor possam expandir suas iniciativas e projetos.

Falta de Visão Empreendedora no Terceiro Setor

Como já falamos, grande parte das pessoas que atuam nessa área acreditam que as instituições não podem buscar lucro e, consequentemente, ficam receosas em buscar alternativas para garantir a sustentabilidade financeira.

É essencial e urgente mudar essa mentalidade e estimular uma abordagem mais criativa e empreendedora.

A soução está em atuar de forma proativa

O terceiro setor possui oportunidades para colaborações com o governo e empresas, mas é necessário que as entidades sejam proativas na proposição de projetos e parcerias para impulsionar as iniciativas de cidades inteligentes.

Portanto, superar esses desafios requer a busca de soluções inovadoras, a exploração de novas fontes de financiamento e a capacitação dos dirigentes do terceiro setor para que conduzam suas instituições de maneira mais eficaz e com uma mentalidade voltada para a busca de oportunidades.

Este é o momento de se reinventar e identificar oportunidades que impulsionem o avanço das cidades inteligentes por meio da atuação do terceiro setor. A colaboração entre governo, empresas e organizações não governamentais é fundamental para alcançar o objetivo compartilhado de construir cidades mais inteligentes, inclusivas e sustentáveis para todos. Investindo nessa parceria, podemos colher os frutos de um futuro promissor para nossas comunidades e o desenvolvimento de sociedades mais prósperas e conscientes.

A mentalidade está errada

“Projeto de impacto social deve vir só de fundos não reembolsáveis…”

Muitas vezes, os dirigentes do terceiro setor acreditam que projetos de impacto social devem depender exclusivamente de fundos não reembolsáveis, sem oferecer qualquer tipo de retorno às instituições que os financiam. Essa mentalidade é limitante e não sustentável a longo prazo, pois os fundos não reembolsáveis são cada vez mais escassos e concorridos.

É importante que eles adotem uma postura mais empreendedora, ou seja, que vão atrás de criar suas oporunidades – principalmente diante de desafios.

Então, ao buscar financiamento, deve-se oferecer contrapartidas às empresas e instituições que investem em seus projetos. O modelo de negócio deve ser de ganho mútuo, beneficiando todas as partes envolvidas e impactando positivamente a sociedade como um todo.

Projeto de impacto social não deve ter divisão do lucro, mas DEVE ter lucro…”

A mudança de mentalidade é crucial para o terceiro setor se destacar e se tornar mais sustentável financeiramente. Os dirigentes devem se capacitar para desenvolver projetos mais robustos, ue incluam prestação de contas e comprovação de resultados. Dessa forma, poderão atrair parceiros dispostos a investir em suas iniciativas, contribuindo para impulsionar o progresso de cidades inteligentes e a realização de objetivos compartilhados.

Nesse contexto, é essencial que o setor privado enxergue além do mero financiamento. A ideia de que as empresas devem bancar projetos de impacto social sem esperar contrapartidas deve ser superada. Sei que já falei isso, mas eu realmente gostaria que as pessoas entendessem, por isso estou repetindo.

O seu projeto pode trazer benefícios mútuos, como oportunidades de marketing, maior visibilidade e até mesmo retorno financeiro para a empresa.

Portanto, quem escreve o projeto deve avaliar de que forma o projeto beneficiará tanto a instituição do terceiro setor quanto a empresa financiadora, pois essa parceria deve ser vista como uma relação em que ambas as partes têm a ganhar, seja em termos de impacto social, reconhecimento ou outros benefícios.

“O setor privado tem que bancar o projeto de impacto social sem esperar contrapartidas…”

Como acabamos de falar, esse pensamento não ajuda o terceiro setor. É necessário reformular o pensamento e entender que para um projeto de impacto social ser atrativo para o setor privado ou outras instituições, é preciso oferecer contrapartidas que justifiquem o investimento. Essas contrapartidas podem incluir visibilidade da marca, divulgação, produção de conteúdo relevante e colaborações estratégicas.

Essa mudança de mentalidade é o catalisador que o terceiro setor precisa para inovar e viabilizar seus projetos de cidades inteligentes de maneira criativa e eficaz. Ao adotar o modelo de parceria do ganha-ganha, as instituições podem despertar o interesse do setor privado, do governo e de outras entidades, promovendo iniciativas sólidas e sustentáveis.

Portanto, ao atuar como consultor em cidades inteligentes, é fundamental internalizar essa mudança de perspectiva e motivar os líderes do terceiro setor a abraçar uma visão empreendedora.

Como aproveitar a oportunidade

Para ser um consultor bem-sucedido nesse campo, é preciso ter em mente que captar recursos no terceiro setor exige planejamento e alinhamento estratégico. Muitas entidades falham em seus projetos por não conhecerem os pré-requisitos e a complexidade do processo. Vamos ver o que você precisa para ter sucesso:

1: Viabilidade e sustentabilidade

Nesse contexto, é essencial compreender que a chave para o sucesso está na visão de longo prazo.

Não importa qual seja seu projeto, ele precisa ser viável e sustentável ao longo do tempo. Ter uma boa ideia é apenas o ponto de partida. É necessário adaptá-la de modo a assegurar que o projeto possa se manter sem depender constantemente de financiamentos externos. 

Para isso, é preciso conhecer e explorar as diversas fontes de financiamento disponíveis, sejam elas provenientes do setor público, privado ou mesmo de fontes internacionais.

2: Habilidades

Além disso, captar recursos requer habilidades específicas, como saber escrever um projeto coerente e atraente, que esteja alinhado aos objetivos das fontes financiadoras. É um processo seletivo e competitivo e as entidades do terceiro setor precisam se preparar para atender aos requisitos e calendários das diversas fontes de financiamento.

3: Projeto

À medida que o volume de recursos solicitados aumenta, mais detalhado e abrangente deve ser o projeto. Os financiadores precisam ter clareza sobre o impacto social e econômico que o projeto trará, para que possam tomar a decisão de investir.

São os três pilares trabalhados dentro do curso Viver de Consultoria: alinhamento de planos, projetos e recursos.

4: Janelas de oportunidades

Além disso, o novo marco legal das startups e a legislação de incentivo à ciência, tecnologia e inovação estão criando janelas de oportunidades para projetos de cidades inteligentes. Há um vasto mercado a ser explorado nessa área, com investimentos previstos na casa dos trilhões de dólares até 2050.

Um campo de destaque é o de gestão de resíduos e saneamento, onde projetos inovadores podem transformar a realidade do país e gerar renda, emprego e desenvolvimento. Com criatividade e visão empreendedora, muitas oportunidades podem ser aproveitadas.

Portanto, para alcançar sucesso na captação de recursos e viabilizar projetos de impacto em cidades inteligentes, é fundamental ter uma mentalidade empreendedora, estar atento às oportunidades do mercado, compreender os requisitos das fontes de financiamento e saber adaptar as ideias para que sejam sustentáveis no longo prazo.

Com foco e determinação, o terceiro setor poderá desempenhar um papel significativo na construção de cidades mais inteligentes, inovadoras e sustentáveis.

Se inscreva em nossa newsletter para receber informações e atualizações sobre cidades inteligentes.

Nós temos a meta de 50%+1 de cidades inteligentes no Brasil até 2030, faltam:
Dias
Horas
Minutos
Segundos
© 2023 por Instituto LICI | Belo Horizonte – MG | CNPJ 32.000.914/0001-49