Como vencer a falta de vontade política dos agentes públicos?
Como consultor de cidades inteligentes, certamente você já se deparou com a falta de vontade política por parte de gestores públicos. Sem o envolvimento e apoio deles, pode ser difícil fazer seus projetos avançarem. No entanto, mesmo diante dessa resistência, é possível encontrar caminhos para avançar e transformar cidades.
Ao longo de minha trajetória, percebi que compreender as nuances e motivações dos gestores é meio caminho andado para estabelecer um diálogo produtivo. Afinal, cada agente público tem suas prioridades, preocupações e visões. E, ao nos alinharmos a essas perspectivas, podemos moldar nossa abordagem e comunicação de maneira mais eficaz.
Hoje, quero compartilhar com você cinco perguntas e respostas estratégicas que me ajudaram a superar a resistência política e a estabelecer parcerias valiosas. Essas reflexões não são fórmulas mágicas, mas sim insights que podem auxiliar na construção de pontes com aqueles que detêm o poder de decisão.
Seja você um arquiteto, advogado, publicitário ou geógrafo, acredito que essas estratégias podem ser úteis. Afinal, todos nós compartilhamos o desejo de impactar positivamente as comunidades, ao mesmo tempo em que buscamos prosperidade em nossas carreiras.
Vamos lá!
1) Como lidar com a falta de vontade política?
Vamos partir de uma premissa: muitos gestores, independentemente de suas filiações partidárias, têm o desejo genuíno de promover o progresso e o bem-estar de suas cidades. Eles desejam ser lembrados como agentes de mudança que contribuíram para o avanço de suas cidades. Assim, nossa abordagem deve ser pautada na empatia e no entendimento dessas aspirações.
Ao iniciar uma conversa com um gestor e nos depararmos com resistência ou aparente desinteresse em nosso projeto, devemos questionar a forma como estamos nos comunicando. Será que estamos apresentando nosso projeto de forma clara e convincente? Estamos destacando os benefícios tangíveis e alinhando-os às prioridades da gestão? E, mais importante, estamos falando uma linguagem que ressoa no universo político e administrativo?
Comunicar-se efetivamente com gestores vai além de simplesmente transmitir informações; trata-se de fazê-lo de maneira que eles compreendam e se identifiquem. A linguagem técnica, embora precisa, pode ser um obstáculo quando recheada de termos que são desconhecidos por eles – e isso pode gerar incompreensão.
Devemos simplificar e humanizar nossa comunicação, optando por palavras claras e exemplos práticos que ilustram os pontos-chave.
Adaptar nossa comunicação ao nível de compreensão do gestor é fundamental para garantir uma troca efetiva de informações.
Além disso, é muito importante entender quem está do outro lado da mesa. Cada gestor tem sua própria trajetória, valores e objetivos. Uma abordagem que funciona com um pode não ser tão eficaz com outro. Por isso, investir tempo em conhecer o perfil comportamental do gestor pode ser um diferencial, pois nos permite ajustar nossa linguagem de forma assertiva.
Ao reconhecer as motivações e prioridades do gestor, podemos adaptar nossa comunicação para que ela se alinhe mais estreitamente aos seus interesses e preocupações. Esta sintonia na comunicação facilita o entendimento mútuo e estabelece uma base de confiança. Com uma mensagem clara e alinhada, aumentamos a chance de estabelecer uma relação autêntica, tornando mais provável que o gestor se sinta envolvido com nosso projeto.
É claro que isso não quer dizer que não haverá objeções.
Sim, uma comunicação de forma eficaz aumenta significativamente a probabilidade de sermos ouvidos e compreendidos.
Mas continua sendo essencial estar pronto para enfrentar esses desafios, buscando soluções concretas e demonstrando flexibilidade para adaptar nossas propostas. Ao antecipar e responder proativamente a esses desafios, não só reforçamos nossa proposta, mas também transmitimos ao gestor que somos parceiros confiáveis.
Dessa forma, é possível ter sucesso em outra etapa fundamental: construir relacionamentos sólidos com os gestores. Devemos enxergá-los como potenciais parceiros, em vez de obstáculos. Demonstrar respeito pelos desafios que eles enfrentam e buscar oportunidades de diálogo e colaboração fortalece os laços e abre portas para parcerias futuras.
2) O que fazer quando o executivo e o legislativo não jogam a favor da cidade?
Infelizmente, essa realidade é comum no Brasil, onde as duas esferas muitas vezes têm visões diferentes e suas disputas podem impactar negativamente o progresso da cidade.
Infelizmente, essa realidade é comum no Brasil, onde as duas esferas muitas vezes têm visões diferentes e suas disputas podem impactar negativamente o progresso da cidade.
Muitas vezes, a falta de alinhamento entre o executivo e o legislativo decorre de diferentes perspectivas sobre o que é melhor para a cidade. É como se ambos estivessem em um carro, com o executivo querendo ir para Brasília e o legislativo para Salvador. Esse impasse pode criar tensões e atrasar decisões importantes.
Nesse momento, é necessário encontrar um ponto intermediário, uma solução que concilie os interesses de ambas as partes, mesmo que não seja exatamente o que cada uma inicialmente propôs. A busca pelo bem comum e pelo progresso da cidade deve ser o objetivo principal.
Muitas dessas desavenças podem ser atribuídas a questões de ego ou a interesses individuais. Portanto, como consultor de Cidades Inteligentes, é necessário aprender a lidar com o ego dos gestores e transformá-lo em moeda política. É uma habilidade fundamental para promover o engajamento e o avanço dos projetos que beneficiem a todos, pois possibilita encontrar pontos de convergência e construir consensos.
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Identifique as causas
A primeira etapa é identificar as causas das discordâncias entre o Executivo e o Legislativo. Pode ser uma questão de visões divergentes, interesses políticos conflitantes ou até mesmo a falta de uma comunicação eficaz. Uma vez identificadas as áreas de desacordo, o desafio é criar um espaço de diálogo onde ambas as partes possam se sentir ouvidas e compreendidas.
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Busque um ponto em comum
como líder de projetos de Cidades Inteligentes ou consultor nessa área, é essencial promover o alinhamento de visão sobre o que é a cidade atual e qual é a cidade desejada. Em meio às diferenças, sempre há áreas de concordância. Concentre-se em identificar esses pontos de convergência. Pode ser um objetivo compartilhado, um benefício mútuo ou uma visão comum para o futuro da cidade. Ao estabelecer um terreno comum, você pode criar uma base sólida para a colaboração.
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Utilize ferramentas estratégicas:
Não subestime o poder das ferramentas certas. O Método CHESI, por exemplo, é uma abordagem comprovada que promove o alinhamento e a colaboração. Ele não só ajuda a conectar o Executivo e o Legislativo, mas também envolve cidadãos, sociedade civil e instituições de ensino no processo. Com as ferramentas adequadas, você pode facilitar o diálogo, promover a inovação e acelerar a implementação de soluções eficazes para a cidade.
Veja que a implementação de projetos de Cidades Inteligentes é uma tarefa coletiva, que exige a colaboração de todos os envolvidos. E, nesse caminho, os desafios são inúmeros. Ao decidir atuar como consultor de Cidades Inteligentes, é preciso ter consciência da responsabilidade que essa função carrega. É um trabalho desafiador, que exige dedicação, coragem e fortalecimento moral.
O consultor tem a oportunidade de contribuir para a melhoria do país, impactando positivamente a vida de milhares de pessoas. Não podemos permitir que a falta de alinhamento entre o executivo e o legislativo ou quaisquer outros obstáculos atrapalhem o avanço dos projetos de Cidades Inteligentes. É fundamental encontrar formas de superar essas dificuldades e promover a transformação positiva das cidades, levando em consideração o bem-estar da população e o desenvolvimento sustentável.
3) Como implantar o projeto de cidades inteligentes em uma cidade onde os servidores públicos não colaboram?
Aqui é importante lembrar que as Cidades Inteligentes são sobre lidar com pessoas. Se você não gosta de lidar com gente, esse mercado pode não ser adequado para você.
É importante reconhecer que o progresso rumo a Agenda 2030 não é um destino final, mas uma jornada contínua de comprometimento, avaliação e ação. Através da resiliência, da inovação e da cooperação entre governo, sociedade civil e parceiros internacionais, caminhamos em direção a um futuro mais justo, próspero e sustentável para todos.
Trabalhar apenas com tecnologia e evitar o contato humano não é o objetivo das Cidades Inteligentes.
A resistência ou falta de colaboração por parte dos servidores públicos muitas vezes não está relacionada a uma falta de vontade, em vez disso, pode ser o resultado de anos enfrentando diversas mudanças de prefeito e projetos que não se concretizam, levando a um sentimento de desânimo ou desmotivação e até ceticismo.
Os servidores públicos são seres humanos, assim como eu e você, e também estão sujeitos a dúvidas e questionamentos e possuem suas próprias preocupações e histórias. Portanto, é preciso olhar além do momento em que eles estão mal-humorados ou desacreditados e ser empático em relação às suas experiências.
Só assim você conseguirá se posicionar como um verdadeiro aliado dessas pessoas. E, como consultor de Cidades Inteligentes, isso faz parte da sua missão, como também faz parte reacender a chama da esperança e do propósito nos corações das pessoas, incluindo os servidores públicos.
Não se esqueça de que o servidor público é uma peça-chave na implantação do projeto, pois, ao contrário do prefeito, ele permanece em seu cargo ao longo dos anos. Se você conseguir engajá-lo e reavivar nele a crença de que a cidade pode se tornar inteligente e que o projeto é realmente viável, terá aliados valiosos ao seu lado.
Muitas vezes falta conhecimento sobre o que são as Cidades Inteligentes e qual é o papel do consultor nesse processo. É comum que eles enxerguem o consultor como mais um vendedor tentando impor algo que não faz sentido para a cidade.
Por isso, antes de apresentar qualquer projeto, escute as pessoas envolvidas, entenda suas necessidades. Ao chegar em uma cidade, realize reuniões com os agentes públicos para compreender o momento e as demandas da cidade.
O diálogo e a escuta ativa são essenciais para identificar se o que você tem a oferecer atende às necessidades específicas daquele município.
É importante deixar claro que o seu objetivo como consultor de Cidades Inteligentes é oferecer uma consultoria de planejamento estratégico, alinhada aos pilares das Cidades Inteligentes, e não apenas vender um serviço e ganhar dinheiro.
Essa abordagem empática e focada nas necessidades da cidade é fundamental para construir uma proposta que faça sentido e seja bem recebida.
Lembre-se que o mercado de consultoria de Cidades Inteligentes é baseado no boca a boca e nas indicações.A indicação de um cliente satisfeito pode abrir portas, enquanto uma consultoria que não atende às expectativas pode fechá-las. Por isso, mais do que buscar soluções prontas, é essencial entender e adaptar-se ao contexto de cada município, garantindo propostas que não apenas sejam viáveis, mas que também agreguem valor real à comunidade.
Resumindo: ao implantar um projeto de Cidades Inteligentes em uma cidade com servidores públicos desmotivados, é fundamental reacender a esperança e o entusiasmo, compreender as histórias individuais dos servidores, ser empático e buscar soluções que atendam às necessidades específicas da cidade. A colaboração dos servidores públicos é essencial para o sucesso do projeto, e é por meio do engajamento e do resgate da crença no potencial transformador das Cidades Inteligentes que se pode alcançar resultados significativos.
4) Como implementar o projeto de cidades inteligentes em uma cidade onde os Vereadores não sabem o que são cidades inteligentes?
A verdade é que, surpreendentemente, muitos vereadores em diversas cidades ainda não estão familiarizados com o conceito de cidades inteligentes. Em muitas Câmaras de Vereadores, cerca de 90% dos membros nem sequer ouviram falar sobre o assunto. Claro, sempre há aquelas exceções – vereadores visionários que já estão sintonizados com essa tendência. Mas, ao invés de ver essa falta de conhecimento como um desafio, podemos enxergá-la como uma janela de oportunidade: um convite para gerar interesse, criar demanda e fomentar o engajamento.
Para transformar em oportunidade, é fundamental engajar os vereadores, envolvendo-os numa narrativa que conecte o conceito de cidades inteligentes com as necessidades e aspirações específicas da comunidade que representam. Mostre como as cidades inteligentes podem ser a chave para resolver problemas locais persistentes, melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e até mesmo otimizar os recursos municipais.
Ao apresentar casos de sucesso e dados concretos, você pode transformar a falta de conhecimento em entusiasmo e apoio ativo. O objetivo é fazer com que eles vejam o projeto não apenas como uma inovação tecnológica, mas como uma solução real e tangível para os desafios enfrentados por seus eleitores.
No entanto, é essencial usar os argumentos corretos e abordar o tema dentro das regras da administração pública, levando em consideração os prazos, a estrutura e as políticas do município, estado e união.
Para realmente impulsionar o conceito de cidades inteligentes, é vital que os vereadores não apenas compreendam o conceito, mas também saibam como traduzir essas ideias em projetos tangíveis e viáveis.
À medida que os vereadores se familiarizam com a visão das cidades inteligentes e entendem os meandros administrativos para concretizar essas ideias, estamos pavimentando o caminho para uma demanda crescente por tais projetos no Brasil. E essa é a nossa verdadeira missão: fomentar um movimento que promova a adoção de iniciativas de cidades inteligentes em todo o país.
Portanto, a forma de implementar o projeto de cidades inteligentes em uma cidade onde os vereadores não têm conhecimento sobre o assunto é começar a capacitá-los. O foco está em qualificá-los e proporcionar o entendimento necessário sobre o tema, desde o seu conceito até as etapas para transformar uma ideia em um projeto viável. Ao capacitar os vereadores, é possível criar um ambiente propício para o desenvolvimento de projetos de cidades inteligentes, impulsionando o progresso e o avanço tecnológico nas cidades brasileiras.
5) A cidade que eu presto consultoria é gerida por 2 famílias que só sugam… Não estão interessadas no projeto de cidades inteligentes. Como vencer este obstáculo?
É verdade, algumas cidades são dominadas por famílias que têm seus próprios interesses e estão mais preocupadas em tirar vantagem dos recursos públicos do que em promover o desenvolvimento da população. Mas será que essas famílias compreendem o potencial e os benefícios de um projeto de cidade inteligente? Será que alguém já se aproximou delas para explicar como a implementação de projetos nessa área pode ser vantajosa tanto para elas quanto para a população em geral? É possível que essas famílias ainda não tenham sido abordadas com os argumentos corretos.
É importante mostrar a elas que um projeto de cidade inteligente pode trazer benefícios significativos não apenas para a população, mas também para seus próprios interesses. Se implementarem iniciativas inteligentes e a cidade florescer sob sua liderança, não apenas a vida dos cidadãos melhora, mas elas também se tornam protagonistas de uma transformação positiva e duradoura e isso com certeza respinga na reputação que elas têm.
É preciso mostrar que os projetos de cidades inteligentes são oportunidade de deixar um legado memorável e, ao mesmo tempo, fortalecer sua posição e imagem diante da comunidade. No entanto, é sempre importante ressaltar que as regras do jogo da política pública devem ser seguidas.
Dada a realidade de domínio familiar em muitos municípios brasileiros, consultores bem-preparados são essenciais. Eles têm a capacidade de identificar demandas e, com a abordagem certa, promover transformações impactantes.
Eu, pessoalmente, acredito que podemos melhorar a vida de até milhões de pessoas por meio da consultoria de cidades inteligentes. É gratificante ter a oportunidade de melhorar a vida das pessoas, mesmo que seja nos bastidores, sem que elas saibam que estamos trabalhando para promover mudanças positivas. Esse é o motivo pelo qual não desisto desse projeto e tenho como meta alcançar 50%+1 de cidades inteligentes no Brasil até 2030, para transformar nosso país.
Estamos caminhando em direção a um futuro melhor, onde a tecnologia e o planejamento estratégico serão aliados para criar cidades mais eficientes, sustentáveis e conectadas. A minha pergunta pra você é: você quer fazer parte disso?