A concepção da Agenda 2030 foi o resultado de um processo evolutivo de reconhecimento global da necessidade urgente de estratégias de desenvolvimento sustentável. Vamos entender:
Declaração do Milênio e ODM:
No alvorecer do novo milênio, houve uma mobilização internacional para abordar várias crises humanitárias. Líderes de 189 países se reuniram na sede das Nações Unidas em Nova York para adotar a Declaração do Milênio, um compromisso para combater a pobreza, a fome, as doenças, o analfabetismo, a degradação ambiental e a discriminação contra as mulheres. A Declaração resultou nos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs):
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01. Erradicar a pobreza extrema e a fome
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02. Atingir o ensino básico universal
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03. Promover a igualdade de gênero e empoderar as mulheres
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04. Reduzir a mortalidade infantil
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05. Melhorar a saúde materna
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06. Combater o HIV/AIDS, malária e outras doenças
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07. Garantir a sustentabilidade ambiental
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08. Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento
Os ODMs foram um marco porque ofereceram metas mensuráveis e prazos claros, servindo como um plano de ação global. Essas 8 metas ambiciosas, possuíam 21 alvos mensuráveis e 60 indicadores.
O resultado dos ODMs
De fato, os ODMs tiveram um impacto notável e impulsionaram avanços em várias áreas. No entanto, enquanto progressos significativos foram feitos (como a redução da pobreza extrema e o aumento do acesso à educação), os avanços foram desiguais entre e dentro dos países. Além disso, algumas questões críticas, como as mudanças climáticas e as desigualdades econômicas, não foram suficientemente abordadas por eles.
Rio+20
Com a aproximação do prazo final dos ODMs em 2015, a necessidade de uma agenda renovada e mais abrangente tornou-se clara. Portanto, durante a Cúpula Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável) em 2012, deu-se início a um processo de discussão e planejamento visando à criação de novos objetivos e metas que fossem mais inclusivos e abrangentes.
O principal resultado da Rio+20 foi o documento final “O Futuro que Queremos”. Este documento lançou as bases para o que viria a ser os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Foi acordado que os ODS deveriam ser “integrados e indivisíveis” e equilibrar as três dimensões do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambiental.
Diferentemente dos ODMs, que foram criados por um grupo de especialistas, os ODS nasceram de um processo colaborativo que envolveu a sociedade civil, o setor privado, acadêmicos e bilhões de cidadãos.
Após a Rio+20, foi formado um Grupo de Trabalho Aberto para desenvolver os ODS, com representantes de 70 países.
Com base nas consultas que fizeram e na avaliação dos ODMs, esse grupo ficou encarregado de propor um conjunto de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Estes objetivos expandiram o escopo dos ODMs, abordando a interconexão entre crescimento econômico, justiça social e sustentabilidade ambiental.
A agenda 2030
O resultado dessas negociações e consultas foi a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, um plano de ação ambicioso e universal para o desenvolvimento global.
Composta por 17 ODS, ela foi unanimemente adotada por 193 Estados-Membros das Nações Unidas em 25 de setembro de 2015, durante a Cúpula sobre o Desenvolvimento Sustentável em Nova York. Este compromisso universal, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 2016, estabelece uma série de metas a serem alcançadas até 2030, marcando um caminho coletivo para um futuro sustentável global.
A nova agenda manteve a continuidade com os ODMs, mas é pioneira em sua natureza, não apenas por sua abordagem abrangente, como já falamos, mas também por sua universalidade. Diferentemente dos ODMs, que se concentravam principalmente nos países em desenvolvimento, a Agenda 2030 é aplicável a todos os países, independentemente de seu estágio de desenvolvimento.
Muitas vezes, esses líderes limitam-se a depender de anuidades ou repasses do governo, sem explorar outras fontes de financiamento.
É necessário ampliar a visão e a compreensão acerca das oportunidades de captação de recursos para que as entidades do terceiro setor possam expandir suas iniciativas e projetos.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: um plano de ação para o futuro que queremos
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1. Erradicação da Pobreza: Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares.
A pobreza vai além da falta de renda; é multidimensional e engloba a falta de recursos básicos, serviços e oportunidades.
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2. Fome Zero: Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhorar a nutrição.
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3. Saúde e Bem-Estar: Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
O ODS 3 aborda uma ampla gama de questões de saúde, desde a redução da mortalidade materna e infantil até o combate a doenças e a promoção da saúde mental.
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4. Educação de Qualidade: Garantir uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade, promovendo oportunidades de aprendizado ao longo da vida.
Este objetivo reconhece a educação como um direito humano fundamental
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5. Igualdade de Gênero: Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
O ODS 5 é um compromisso com o fim de todas as formas de discriminação, violência e práticas prejudiciais contra mulheres e meninas
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6. Água Limpa e Saneamento: Assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos.
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7. Energia Limpa e Acessível: Garantir acesso a fontes de energia acessíveis, confiáveis, sustentáveis e modernas para todos.
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8. Trabalho Decente e Crescimento Econômico: Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos
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9. Indústria, Inovação e Infraestrutura: Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação.
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10. Redução das Desigualdades: Reduzir a desigualdade dentro e entre países.
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11. Cidades Sustentáveis: Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.
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12. Consumo e Produção Responsáveis: Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.
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13. Ação Contra a Mudança Global do Clima: Tomar medidas urgentes para combater as mudanças climáticas e seus impactos.
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14. Vida na Água: Conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e recursos marinhos.
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15. Vida Terrestre: Proteger, recuperar e promover o uso sustentável de ecossistemas terrestres, gerenciar de forma sustentável as florestas, combater a desertificação e deter a perda de biodiversidade.
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16. Paz, Justiça e Instituições Eficazes: Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
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17. Parcerias e Meios de Implementação: Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.
Implementação do Desenvolvimento Sustentável até 2030:
A implementação dos ODS até 2030 requer uma parceria global unida e a mobilização de recursos em escala sem precedentes.
Mais do que a visão compartilhada para um mundo mais justo, os ODS são uma chamada à ação global.
Todo mundo tem um papel no meio disso tudo. Não apenas os governos, mas as empresas, a sociedade civil e todos os cidadãos precisam se envolver e contribuir para que consigamos alcançar essas metas.
Desde a sua adoção em 2015, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são como um farol de esperança em um mundo enfrentando desafios complexos, são um roteiro de como devemos abordar questões críticas, como pobreza, desigualdade, mudanças climáticas e acesso a serviços essenciais.
Neles, reconhecemos que as ações em uma área afetarão os resultados em outras e que o desenvolvimento deve equilibrar a sustentabilidade ambiental, a prosperidade econômica e o bem-estar social e humano. Isso significa que não podemos, por exemplo, promover o crescimento econômico sem considerar o impacto ambiental ou a desigualdade social.
Desafios e Esperanças:
A Agenda 2030 apresenta uma visão otimista do futuro, mas também reconhece os desafios significativos que enfrentamos, desde a ameaça das mudanças climáticas e a degradação ambiental até as desigualdades profundamente enraizadas e os conflitos persistentes que afligem muitas partes do mundo.
Ao longo dos anos, os ODS têm alcançado progressos notáveis, mas também enfrentado desafios persistentes e emergentes, delineando a necessidade urgente de ação global coordenada.
Muitos países têm registrado avanços na erradicação da pobreza, no acesso à educação de qualidade, na promoção da igualdade de gênero e na melhoria dos cuidados de saúde. A conscientização global sobre questões ambientais, como as mudanças climáticas, também aumentou consideravelmente. Inúmeras iniciativas governamentais, empresariais e da sociedade civil contribuíram para essas conquistas.
No entanto, enquanto celebramos esses marcos, devemos reconhecer os desafios que ainda persistem. A desigualdade econômica e social continua a ser uma barreira significativa para o desenvolvimento sustentável. O acesso à água limpa, saneamento básico e serviços de saúde de qualidade ainda é um problema em muitas partes do mundo.
À medida que enfrentamos esses desafios, é crucial que nos mantenhamos comprometidos com os ODS e as metas estabelecidas para 2030.
A ação coordenada em níveis global, nacional e local é fundamental para avançar em direção a um futuro mais sustentável. A resiliência e a adaptabilidade são essenciais para enfrentar os desafios emergentes e garantir que ninguém seja deixado para trás na busca por um mundo mais justo, próspero e ambientalmente saudável.
Mas existem muitas coisas boas acontecendo também:
Mobilização Global: Nunca antes a comunidade global esteve tão mobilizada em torno de uma agenda comum. A adoção universal dos ODS é um testemunho do compromisso global com um futuro melhor.
Inovação e Tecnologia: Novas tecnologias e inovações oferecem oportunidades sem precedentes para abordar alguns dos desafios mais prementes do mundo de maneiras novas e eficazes.
Participação da Sociedade Civil: A sociedade civil, incluindo ONGs, empresas e cidadãos comuns, está desempenhando um papel cada vez mais ativo na implementação dos ODS, garantindo que os esforços sejam enraizados nas comunidades e respondam às necessidades locais.
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